15/10/2025 16h38
Foto: Divulgação
O governo federal está estudando a criação de uma rede de trens de passageiros entre cidades do Nordeste para fomentar o turismo na região. Segundo o presidente da estatal Infra S.A., Jorge Bastos, o início da integração ferroviária regional deve começar pela construção de uma linha de cerca de 110 km de extensão entre Recife e João Pessoa.
“A Infra tem estudado trechos com potencial viabilidade de transporte de passageiros. O primeiro trecho que o Ministério [dos Transportes] deu para a gente estudar é uma ligação entre as capitais que têm a menor distância entre elas”, disse “Mais tarde, tendo viabilidade, a linha pode ir até Maceió, Natal e assim vai”, acrescentou Bastos, no evento no Brasil”, série de debates promovido pelo Valor, em parceria com a Infra S.A. e o Ministério dos Transportes. Nesta edição, realizada em Fortaleza, o foco é a região Nordeste.
Os estudos mencionados por Bastos integram o trabalho de elaboração do Plano Nacional de Logística 2050 (PNL 2050), coordenado pelo Ministério dos Transportes e executado com ajuda da Infra. O plano começou a ser debatido em 2024, por determinação de um decreto presidencial. Uma primeira versão do PNL deve estar concluída ainda em 2025.
Segundo Bastos, o PNL definirá projetos de longo prazo necessários para a melhoria do transporte de cargas e passageiros de todo o país. Será, portanto, uma ferramenta importante para ampliar o potencial de crescimento econômico. “Para crescer, é preciso planejamento de longo prazo”, disse. “O Nordeste é um território de grandes potencialidades. Mas, para que esse potencial se converta em desenvolvimento, é preciso investir na infraestrutura.”
Flavio Ataliba, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), lembrou durante o evento que o Nordeste concentra 27% da população do país, mas produz o equivalente a 14% do Produto Interno Bruto (PIB). Ressaltou também que a região, nos últimos dez anos, cresceu mais que a média nacional. Ainda assim, no atual ritmo de crescimento, demoraria 180 anos para conseguir elevar sua participação no PIB ao mesmo patamar de sua participação populacional. “É preciso acelerar o crescimento do Nordeste. Infraestrutura é fundamental para isso”, afirmou Ataliba.
George Santoro, secretário-executivo do Ministério dos Transportes, disse que o governo federal aposta na ampliação da rede ferroviária nordestina para dinamizar a economia da região. Segundo ele, pelo menos R$ 60 bilhões em investimentos estão previstos em ferrovias que beneficiarão o setor produtivo do Nordeste. Ele citou como exemplo a criação de um corredor logístico interligando o Centro-Oeste do país ao Porto do Sul, em Ilhéus (BA), por meio da conexão da Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico) com a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol).
O secretário afirmou que o projeto será um dos maiores da área detransporte do país. Ele deve começar a ser licitado ainda no primeiro semestre de 2026. “O projeto do corredor Leste-Oeste está passando por alguns ajustes. Até dezembro, ele estará na ANTT [Agência Nacional de Transportes Terrestres] para, no início do ano, ser enviado ao TCU [Tribunal de Contas da União]. Provavelmente, o edital será publicado no primeiro semestre do ano que vem”, detalhou.
Para Santoro, a criação do corredor vai beneficiar principalmente a mineração e a agricultura nacional, mas também vai criar condições para que cargas industriais sejam transportadas de forma mais eficiente — o que tende a incentivar o investimento industrial no Nordeste.
Outro projeto visto como estratégico é a Ferrovia Transnordestina. Tufi Daher Filho, diretor-presidente da Transnordestina Logística, que constrói a linha férrea e que vai operá-la, disse que ela iniciará seu funcionamento em 2027. Ainda em outubro deste ano, entretanto ela passará por seus primeiros testes. Serão feitos transportes de cargas, como soja, milho, farelo de soja e calcário, entre Bela Vista do Piauí (PI) e Iguatu (CE). “A conclusão da obra será um marco para o desenvolvimento do Nordeste”, disse ele.
Fabiano Chaves da Silva, subsecretário de Planejamento de Longo Prazo, do Ministério do Planejamento e Orçamento, disse que o investimento em transporte pode consolidar o Nordeste como grande produtor e exportador de energia limpa do mundo, por meio do hidrogênio verde. Cloves Eduardo Benevides, subsecretário de Sustentabilidade do Ministério dos Transportes, disse que o planejamento da logística também vai reduzir as emissões de carbono do país com uso mais racional dos diversos modais.
Já José Arlan Silva Rodrigues, presidente da Federação das Empresas de Transporte de Cargas e Logística do Nordeste (Fetranslog-NE), ressaltou que as rodovias não podem ter sua importância subestimada no planejamento da logística nordestina. Ele lembrou que a Pesquisa de Rodovias da CNT (Confederação Nacional do Transporte) indicou que 1.017 dos 2.446 pontos críticos identificados em estradas do país ficam no Nordeste — ou seja, 41%. “Por que o Nordeste tem mais pontos críticos e por que não tem tantas concessões rodoviárias?”, questionou ele.
Fonte: Valor Econômico