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Sustentabilidade

Aumento de queimadas no Pantanal foi de quase 200% em um ano

Cerca de 23% do Pantanal já queimou e Ibama defende a aprovação de política de manejo do fogo

01/10/2020 09h26

Foto: Divulgação

De janeiro a 29 de setembro, houve aumento de 195% no número de queimadas detectadas no Pantanal comparando com o mesmo período 2019. Segundo o coordenador-substituto do Programa de Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Alberto Setzer, “o aumento é de quase 200%, levando em conta que em 2019 já teve aumento de mais de 320% em relação a 2018”, afirmou.

“Em 2020 o número de focos já ultrapassou qualquer outro ano que tínhamos registrado na série histórica, desde 1998”, comparou Setzer. Ele acrescentou que, até final de agosto, 12% da área do Pantanal já haviam queimado. Número que, segundo o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da UFRJ, que usa as imagens dos satélites, subiu para 23% até 27 de setembro.

Os dados foram apresentados na comissão externa que acompanha o enfrentamento de queimadas no Brasil.

Dados técnicos
Alberto Setzer alertou que há setores tentando desacreditar os dados do Inpe. Segundo ele, os dados são de uso técnico, aproveitados, por exemplo, por universidades e secretarias do Meio Ambiente, e não devem ser politizados.

Diante de questionamento de internautas, Setzer acrescentou que não há falsas detecções de queimadas, como de rochas.

O representante do Inpe informou que o satélite produz cerca de 250 imagens por dia, mapeando áreas queimadas. “São centenas de quilômetros de frente de fogo que deveriam ser combatidas. Para isso, hoje, contamos com centenas de brigadistas, heróis até na verdade, que estão tentando o possível para controlar isso. Só que não é com uma centena, ou algumas centenas que vamos resolver a situação”, avisou. “Nós precisaríamos de milhares, na verdade dezenas de milhares de pessoas, para conseguir enfrentar uma situação tão extensa, com distância de centenas de quilômetros entre os vários locais onde o satélite indica as queimadas”, avaliou.

Conforme Setzer, o satélite indica também áreas com risco de fogo e uma previsão do que acontecerá nos próximos dias. “Temos mais de um mês sem chuva, temperaturas na faixa de 40 graus, nenhuma precipitação prevista, umidade relativa abaixo de 25%, qualquer pessoa sabe que riscou o fósforo, a vegetação vai queimar”, alertou.

A pesquisadora do Programa de Queimadas do Inpe, Izabelly Carvalho da Costa, disse que, para os próximos 10 dias, não há previsão de chuvas significativas na Bacia do Alto Paraguai, onde grande parte do Pantanal se localiza.

“A estação chuvosa só deve começar em meados de outubro”, disse. E, no próximo trimestre, a previsão de chuvas também está abaixo do considerado “normal”.

Vinícius Silgueiro, do Instituto Centro de Vida e do Observa MT, pede mais transparência das ações do governo federal em relação às ações tomadas para enfrentar a tragédia. A organização avalia que recursos insuficientes foram disponibilizados para lidar com as queimadas, “porque se tratava de uma tragédia anunciada”.

Ele observou que ICMBio e Ibama contam o menor orçamento em cinco anos para as ações relacionadas a incêndios florestais; e defendeu mais fiscalização, investigação e punição dos responsáveis pelos focos de incêndio.

Conforme ele, em 67% da área de Mato Grosso atingida pelo fogo até 17 de agosto, havia apenas nove pontos de origem das queimadas – sendo oito propriedades privadas e uma área indígena.